A iraniana Ameneh Bahrami, de 34 anos, ficou desfigurada depois que um colega de faculdade com quem ela se recusou a casar atirou ácido em seu rosto. Em 2011, ela ganhou na justiça o direito de aplicar a Lei de Talião, em que poderia se vingar cegando o agressor. Na última hora, ela desistiu de pagar o crime na mesma moeda.
Ameneh está lançando um livro sobre seu acidente e deu depoimento à Folha de São Paulo sobre o ocorrido: ”Fiz faculdade de Engenharia Eletrônica. Em 2003, uma senhora me telefonou dizendo que tinha um filho que estudava comigo e queria me pedir em casamento. Ela me disse seu nome, Majid Movahedi, e então fui conferir quem era. Eu o conhecia de rosto, mas não sabia seu nome. Quando ela ligou de novo, contei que não estava interessada. Eu não ia com a cara dele e, além disso, ele um dia havia mexido comigo durante uma oficina de laboratório, tocando minhas coxas”.
Segundo a vítima, a pretensa sogra continuou telefonando, e chegou a dizer que seu filho era homem e, por isso, tinha direito de escolher quem desejasse para casar. Após meses recebendo ligações, Ameneh exigiu que a senhora parasse de telefonar. Ela respondeu que o filho iria se matar se não fosse correspondido.
“Eu só soube muito tempo depois que Majid vivia me seguindo e sabia todo tipo de informação a meu respeito, desde horários até nomes de colegas. Certa vez ele ligou dizendo que estava disposto a me matar se eu não me casasse com ele. Não levei a sério, até que um dia, em 2004, eu o vi me esperando na frente da empresa. Repeti que não o queria e contei que tinha um marido. Majid respondeu: É mentira, pois sei tudo a seu respeito. Case comigo ou vou arruinar sua vida.”, relembra.
Dois dias depois, Ameneh saiu do trabalho e caminhava pela rua quando sentiu alguém apressado atrás dela. “Deixei a pessoa me ultrapassar e vi que era Majid, com um frasco na mão. Ele atirou um líquido no meu rosto, e pensei que fosse água quente. Ele riu e saiu correndo. Minha vista escureceu. Logo senti uma queimação insuportável e entendi que o líquido que escorria pelo meu rosto não era água quente, mas ácido sulfúrico!”, lamentou.
“Doía muito e eu não enxergava nada. Trouxeram água e molhei minhas mãos e braços, mas foi pior, pois minha pele começou a ferver. Um homem me disse: Não leve a água à cabeça, senão seu rosto vai se desmanchar. Nem na clínica de queimados sabiam o que fazer comigo…”, relatou.
Com ajuda financeira do então presidente Mohammad Khatami, a moça foi se tratar em Barcelona, onde uma operação lhe permitiu recuperar 40% da visão do olho direito.
“Em 2007, peguei uma infecção num abrigo social e perdi de vez o olho direito. Foi aí que decidi voltar ao Irã para pedir a Lei de Talião [olho por olho, dente por dente, criada na Babilônia antiga]. A Justiça argumentou que a lei nunca era aplicada, mas, no ano passado, ganhei a causa. Majid já estava no hospital judiciário para ser cegado quando anunciei que o perdoava. Ele se jogou no chão e beijou meus pés. No fundo, eu nunca quis aplicar a Lei de Talião. Jamais poderia fazer isso, não sou selvagem. Eu queria mesmo chamar a atenção para o caso e evitar que outras pessoas passem pelo que sofri.”, garante.
Ameneh diz que o que importa agora é o dinheiro para seguir com o tratamento. Ela luta por uma indenização, mas a justiça iraniana não gostou quando a moça recuou da condenação do agressor.
*Com informações da Folha.com